terça-feira, 5 de novembro de 2013

Análise Didática - Parte 1

Universitário Sistema Educacional
Logo de início, é possível perceber na apostila Semi Pré-Vestibular (2009) a divisão entre as áreas da Língua Portuguesa. Em seu sumário, está clara a separação entre gramática, literatura e redação. O Romantismo é exposto através de 12 páginas, sob o título de “Romantismo no Brasil” (teoria), divido em: contexto histórico, poesia, romance e teatro. A cada parte é dedicada uma quantidade de atenção diferenciada. Por exemplo, o teatro aparece no final do capítulo em meia página, apenas para dizer que houve a criação de alguns enredos teatrais durante esse período no Brasil. É interessante a observação de que, durante o progresso do tema discutido e até mesmo no final da apostila, não há citação alguma de teóricos ou qualquer outro material utilizado.
Ao iniciar a leitura, observa-se já a diferença de linguagem usada em um material preparatório para o vestibular e um material escolar. Esse tipo de atividade tem por intuito preparar o aluno para o que será proposto nas provas que terão pela frente; assim, a linguagem é muito rebuscada, técnica e semelhante aos moldes das avaliações. Um exemplo muito óbvio disso é o uso da palavra indissociáveis em um trecho do texto que apresenta a temática de Gonçalves Dias: “O poeta valoriza o indígena também por enxergar nele o homem em estado de harmonia com a natureza, de modo que um e outro são indissociáveis”. Essa maneira de apresentar o tema se distancia também da forma como se sabe que é ministrada uma aula de cursinho, na qual os professores trabalham de uma forma muito dinâmica.
O texto apresenta somente uma imagem que é utilizada como marcadora temporária para a definição do contexto histórico. A partir da ilustração “Independência ou morte”, o aluno pode logo deduzir que o Romantismo desenvolveu-se no período em que o Brasil se tornou independente. Apesar de apenas uma imagem ao logo do texto, percebe-se a importância desse texto multimodal em um material didático, como forma de ajudar na associação espaço-temporal.
Após essa breve contextualização, começam a ser enumerados os autores – primeiro os poetas e depois os romancistas. Juntamente aos poetas, são apresentadas as três fases do período literário. Este é um fato curioso, pois dessa forma, até parece que esses diferentes momentos não tiveram influência sobre a produção dos romances. Talvez se a partir da divisão entre a primeira, a segunda e a terceira fase fossem apresentados exemplos de autores, a organização dos assuntos estaria melhor elaborada e explicada.
Dentre os exemplos de poetas utilizados, estão os mais conhecidos e sempre presentes em vestibulares: Gonçalves Dias, Alvares de Azevedo, Castro Alves. Outros são citados, mas apenas para lembrar que também fizeram parte dessa fase literária. No entanto, as páginas são tomadas por poemas dos escritores citados. Após uma breve apresentação de cada um, levando em conta o período e as principais características, são dados não somente textos, mas também análises prontas dessas obras. Todas as escolhas são mais do que conhecidas pelos alunos: para Gonçalves Dias, os exemplos são “I-Juca-Pirama” e “Canção do Exílio”; Alvares de Azevedo é lembrado pela “Lira dos Vinte Anos”, no entanto, é também citado seu conto “Noites na Taverna”; já para Castro Alves, a escolha é “Navio Negreiro”.
Logo, os romancistas são introduzidos, lembrando que suas obras tinham por intuito a representação da burguesia. Após a descrição das características do gênero e dos autores, são dados trechos de suas obras, mas em nenhum momento é explicado o porquê da escolha de tal. Os três romancistas escolhidos são Manuel de Macedo, José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida. Sobre o primeiro, diz-se de sua importância pela consolidação do romance no Brasil através de A Moreninha, livro que tem seu enredo narrado de forma muito breve. Para Alencar é dedicado um pouco mais de conteúdo. Divide-se sua obra, de forma que pareça muito importante saber qual o período daquela obra e para que o aluno decore uma lista de livros. Obviamente, Manuel de Almeida é apresentado através de Memórias de Um Sargento de Milícias. Para o tal, explica que sua importância para a Literatura é a de retratar precisamente o Rio de Janeiro na época de D. João VI, sendo como um documento histórico para o Brasil. É relevante salientar que são dadas são características e enredos resumidos, mas sem uma conexão inteligível sobre as duas coisas.
Sobre os exercícios, observa-se que eles apresentam a mesma linguagem trabalhada na parte teórica do material. Na verdade, são exercícios retirados de provas vestibulares dos anos anteriores e que abordavam a Literatura.

Após a leitura e análise, nota-se que a importância dada à Literatura no processo de ensino-aprendizagem foge do “saber-fazer” proposto pelas diretrizes educacionais; na verdade, percebe-se que saber nomes e características de maneira mecanizada, com poemas e enredos saturados, ganha uma maior relevância. No entanto, quando é pensada a meta de um curso pré-vestibular, vê-se que a elaboração desse material é mais fiel ao que acontece com o ensino literário na realidade. Os livros didáticos escolares muitas vezes fingem integrar gramática, redação e literatura, sendo um livro único para as três áreas sem aparente divisão. Porém, o que acaba ocorrendo é uma descontextualização do texto literário para, por exemplo, exercícios gramaticais. O material pré-vestibular analisado pareceu de acordo com a realidade das avaliações universitárias propostas ano após ano, as quais cobram muitos saberes que são apenas internalizados, mas nunca criticados pelos alunos.

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