sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Variação Linguística na Cultura

          O objeto de estudo da sociolínguistica foi fixado no meio acadêmico norte-americano nos anos 1960. Os sociolinguistas perceberam que a linguística não estava dando conta de explicar certos fenômenos, como o da variação linguística social dentro das comunidades de fala. A sociolinguísitica precisa ser interdisciplinar, dialogando com outras áreas das ciências sociais e humanas, especialmente, é claro, a sociologia e antropologia. Têm se caracterizado como importante no combate ao preconceito e na defesa de minorias que falam variantes diferentes do padrão, já que sua abordagem procura ser descritiva, e não normativa.

          Na cultura popular podemos analisar a presença de variações em diversos segmentos, principalmente em músicas, tanto nas mais antigas como nas mais atuais. Talvez nas músicas mais antigas essas variações não fossem “propositais”, mas realmente a forma como os seus escritores falavam. Hoje em dia temos inclusão dessas variações de forma a “aguçar” a curiosidade das pessoas por essas variações e assim provocar o humor. Abaixo temos duas músicas onde temos inúmeras variações. Uma delas é de Adoniran Barbosa, chamada O Samba do Arnesto, que foi escrita em 1953. Adoniran era morador de São Paulo, nascido em Valinhos, filho de imigrantes italianos. A outra é de uma banda independente chamada Pedra Letícia, criada em 2005 em Goiânia. A música chamada “Como cocê pode abandoná eu” lembra o estilo dos Mamonas Assassinas. Além das músicas, temos também variações em quadrinhos, o mais conhecido é o Chico Bento, produzido por Maurício de Sousa, vítima de muito preconceito, sendo vetado por muitos pais e educadores por conter uma linguagem não padrão que, segundo essas pessoas, pode influenciar negativamente as crianças que os lêem. Confira as letras das músicas e algumas das variações que podemos encontrar em cada uma delas e as variações em uma tirinha do Chico Bento:


SAMBA DO ARNESTO - ADONIRAN BARBOSA





O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever" Arnesto

Principais Variações: 
  1. Verbos: “vortemo”, “encontremos” “semos”, “aceitemos”, – Variações morfológicas e sintáticas, além da variação fonológica no primeiro verbo, por rotacismo (troca do L pelo R). Falta concordância entre as palavras, além da forma variante de escrita/fala desses.
  2. A palavra “tatu” – variação lexical. Uso de uma palavra que, denotativamente, é um animal, usado como expressão de “bobo”.
  3. Essas variações são muito comuns entre pessoas do interior, as chamadas “caipiras” (variação diatópica) e entre pessoas de classe social mais baixa (variação diastrática).


COMO VOCÊ PÔDE ABANDONÁ EU - PEDRA LETÍCIA







[Refrão]
Como que ocê pôde abandoná eu
Se nóis foi sempre filiz
Esse moço nunca te mereceu
E eu sou o que ocê sempre quis
"Essa música eu escrevi pra uma ex-namorada
que de tão safada me abandonou
me trocou por alguém, esse alguém sabe quem
e eu nunca entendi, eu era tão bom pra ela 

esperava na janela (porque é a rima mais fácil "ela" com "janela") mas um dia, ela me deixou"
Aquele zóio verde eu garanto que é lente
O meu é vesgo mas é natural
E aquele volume olhando de frente
É enchimento, aquilo não é normal
O BMW deve ser roubado 

Já meu Belinão ocê me viu comprar
Foram 15 prestação que eu paguei atrasado
Mas só farta 2 e eu vou quitar
(...) Se ele faz Direito eu faço Enfermage
Se luta jiu-jitsu eu jogo dominó
Se ele só bebe whisky Johnny Walker
Eu só bebo Druris e Schincariol
Se nas férias dele vai pra Nova York
Pega o avião, embarque, desembarque
Muito melhor é lá em Caldas Novas
Quero ver ter água quente lá no Central Park
Agora que eu quero ver 
Quem vai te levar pra lancha
Coxinha, esfiha e pastel
E dividi um guaraná

Principais variações: 
  1. Nesta música temos a predominância de variações fonológicas (“filiz”, “ocê”, “zóio”, a ausência do R em final de verbo, etc), caracterizando variações principalmente diastráticas. 

TIRINHA - CHICO BENTO


       As tirinhas do Chico Bento, por representarem conversas, apresentam basicamente variações fonológicas e por meio destas, variações sintáticas, por diferenças diatópicas e diastráticas, que geralmente são concomitantes. Como exemplos de variações temos: 
  1. Trabaia – variação fonológica por yeismo (troca do LH por I) 
  2. Pagá – variação fonética e morfológica - retirada do R final do verbo 
  3. As conta – Marcação do plural apenas no artigo, retirando a “redundância” 
  4. Adonde – forma arcaica
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS




Turma do Chico Bento.  Editora Globo. Copyright ©1996 Mauricio de Sousa Produções

PARTICIPANTES DO TRABALHO:
Alda de Amorim Benedito - A6718C-7 
Andréia C. Arruda - A740HH-6 
Angela Fernanda de Oliveira - B00IHJ-0 
Angélica Cristina M. da Silva - A97965-4 
Deise Monteiro - A987GE-0 
Jonathans Rodrigo Macedo da Silva - A750AB-1 
Vinícius Alves Matias - B1832A-6

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