Universitário Sistema
Educacional
Logo
de início, é possível perceber na apostila Semi
Pré-Vestibular (2009) a divisão entre as áreas da Língua Portuguesa. Em seu
sumário, está clara a separação entre gramática, literatura e redação. O
Romantismo é exposto através de 12 páginas, sob o título de “Romantismo no
Brasil” (teoria), divido em: contexto histórico, poesia, romance e teatro. A
cada parte é dedicada uma quantidade de atenção diferenciada. Por exemplo, o
teatro aparece no final do capítulo em meia página, apenas para dizer que houve
a criação de alguns enredos teatrais durante esse período no Brasil. É
interessante a observação de que, durante o progresso do tema discutido e até
mesmo no final da apostila, não há citação alguma de teóricos ou qualquer outro
material utilizado.
Ao
iniciar a leitura, observa-se já a diferença de linguagem usada em um material
preparatório para o vestibular e um material escolar. Esse tipo de atividade
tem por intuito preparar o aluno para o que será proposto nas provas que terão
pela frente; assim, a linguagem é muito rebuscada, técnica e semelhante aos
moldes das avaliações. Um exemplo muito óbvio disso é o uso da palavra indissociáveis em um trecho do texto que
apresenta a temática de Gonçalves Dias: “O
poeta valoriza o indígena também por enxergar nele o homem em estado de
harmonia com a natureza, de modo que um e outro são indissociáveis”. Essa
maneira de apresentar o tema se distancia também da forma como se sabe que é
ministrada uma aula de cursinho, na qual os professores trabalham de uma forma
muito dinâmica.
O
texto apresenta somente uma imagem que é utilizada como marcadora temporária
para a definição do contexto histórico. A partir da ilustração “Independência
ou morte”, o aluno pode logo deduzir que o Romantismo desenvolveu-se no período
em que o Brasil se tornou independente. Apesar de apenas uma imagem ao logo do
texto, percebe-se a importância desse texto multimodal em um material didático,
como forma de ajudar na associação espaço-temporal.
Após
essa breve contextualização, começam a ser enumerados os autores – primeiro os
poetas e depois os romancistas. Juntamente aos poetas, são apresentadas as três
fases do período literário. Este é um fato curioso, pois dessa forma, até
parece que esses diferentes momentos não tiveram influência sobre a produção
dos romances. Talvez se a partir da divisão entre a primeira, a segunda e a
terceira fase fossem apresentados exemplos de autores, a organização dos
assuntos estaria melhor elaborada e explicada.
Dentre
os exemplos de poetas utilizados, estão os mais conhecidos e sempre presentes
em vestibulares: Gonçalves Dias, Alvares de Azevedo, Castro Alves. Outros são
citados, mas apenas para lembrar que também fizeram parte dessa fase literária.
No entanto, as páginas são tomadas por poemas dos escritores citados. Após uma
breve apresentação de cada um, levando em conta o período e as principais
características, são dados não somente textos, mas também análises prontas
dessas obras. Todas as escolhas são mais do que conhecidas pelos alunos: para
Gonçalves Dias, os exemplos são “I-Juca-Pirama” e “Canção do Exílio”; Alvares
de Azevedo é lembrado pela “Lira dos Vinte Anos”, no entanto, é também citado
seu conto “Noites na Taverna”; já para Castro Alves, a escolha é “Navio
Negreiro”.
Logo,
os romancistas são introduzidos, lembrando que suas obras tinham por intuito a
representação da burguesia. Após a descrição das características do gênero e
dos autores, são dados trechos de suas obras, mas em nenhum momento é explicado
o porquê da escolha de tal. Os três romancistas escolhidos são Manuel de
Macedo, José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida. Sobre o primeiro, diz-se
de sua importância pela consolidação do romance no Brasil através de A Moreninha, livro que tem seu enredo
narrado de forma muito breve. Para Alencar é dedicado um pouco mais de
conteúdo. Divide-se sua obra, de forma que pareça muito importante saber qual o
período daquela obra e para que o aluno decore uma lista de livros. Obviamente,
Manuel de Almeida é apresentado através de Memórias
de Um Sargento de Milícias. Para o tal, explica que sua importância para a
Literatura é a de retratar precisamente o Rio de Janeiro na época de D. João
VI, sendo como um documento histórico para o Brasil. É relevante salientar que
são dadas são características e enredos resumidos, mas sem uma conexão
inteligível sobre as duas coisas.
Sobre
os exercícios, observa-se que eles apresentam a mesma linguagem trabalhada na
parte teórica do material. Na verdade, são exercícios retirados de provas
vestibulares dos anos anteriores e que abordavam a Literatura.
Após
a leitura e análise, nota-se que a importância dada à Literatura no processo de
ensino-aprendizagem foge do “saber-fazer” proposto pelas diretrizes
educacionais; na verdade, percebe-se que saber nomes e características de
maneira mecanizada, com poemas e enredos saturados, ganha uma maior relevância.
No entanto, quando é pensada a meta de um curso pré-vestibular, vê-se que a
elaboração desse material é mais fiel ao que acontece com o ensino literário na
realidade. Os livros didáticos escolares muitas vezes fingem integrar
gramática, redação e literatura, sendo um livro único para as três áreas sem
aparente divisão. Porém, o que acaba ocorrendo é uma descontextualização do
texto literário para, por exemplo, exercícios gramaticais. O material
pré-vestibular analisado pareceu de acordo com a realidade das avaliações
universitárias propostas ano após ano, as quais cobram muitos saberes que são
apenas internalizados, mas nunca criticados pelos alunos.